Como a venda on-line de alimentos desafia as redes de supermercado
Redes de supermercado procuram maneiras de incentivar o consumo de itens perecíveis pela internet para aumentar a cauda de seu e-commerce. Saiba o que tem sido feito
Uma pesquisa da PwC, divulgada em abril deste ano, 60% dos consumidores brasileiros não fizeram nenhuma compra on-line de supermercado nos últimos 12 meses. Além disso, outros 37% fizeram “algumas compras” dessa ordem no período. Apenas 22% dos brasileiros fizeram compras de supermercado pela internet com uma frequência maior.
A baixa disseminação de produtos de consumo rápido na rede impacta diretamente as vendas on-line como um todo. O perfil de consumo na internet ainda é majoritariamente de itens duráveis, que têm giro lento. A média de compras na internet é de cinco por pessoa ao ano, segundo a Ebit. Sem o Mercado Livre, líder de mercado, as vendas caem para 2,7 por pessoa.
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Uma pesquisa da Zebra Technologies aponta que apenas 19 das 144 maiores redes de supermercados que operam no Brasil possuem uma operação de e-commerce. Ou seja, apenas 12% do setor tem uma operação on-line.
As redes de supermercado que atuam na internet têm apostado na entrega em um tempo cada vez mais curto para melhorar o desempenho de seu canal virtual. No exterior, a Amazon tem arrumado maneiras de entregar produtos em até duas horas por meio de seu sistema Prime. O Walmart usa sua infraestrutura com mais de 5 mil lojas físicas para atrair o cliente on-line para fazer a retirada dos produtos que comprou na internet diretamente na loja, sem pegar filas.
As grandes redes supermercadistas nacionais buscam maneiras de popularizar as vendas pela internet tentando apresentar ao consumidor a possibilidade de passar menos tempo na fila. O Carrefour, por exemplo, tem implementado sistema de pontos de retirada em 12 lojas da rede.
Outra maneira que o Carrefour tem encontrado para reduzir os atritos durante a jornada de compra do consumidor é a entrega por meio de um drive thru. O chamado “Retire de Carro” está em funcionamento na unidade de Pinheiros, zona sul de São Paulo. Com a nova opção, lançada em maio, o cliente poder realizar suas compras via site ou aplicativo e retirá-las de carro no estacionamento da loja. O programa ainda é piloto.
“As pessoas não têm o hábito de comprar alimentos on-line. Mas não sei dizer se falta serviço bom para motivar esse comportamento ou se o consumidor, aprendendo a consumidor dessa maneira, incentiva bons serviços. Mas, uma vez vencida essa barreira, não haverá mais volta”, disse Paulo Cardoso, CEO do Carrefour Soluções Financeiras à revista NOVAREJO.
Perfil de consumo
O relatório da Associação Paulista de Supermercados (APAS), “Tendências e Comportamento do Consumidor”, de maio deste ano, tenta responder ao questionamento de Paula. Segundo a associação, a baixa adesão está diretamente ligada a falta de oferta de serviços on-line no setor.
A pesquisa, feita em parceria com o Ibope, aponta que apenas 2% dos consumidores brasileiros compram alimentos via plataforma digital. A compra de supermercado pela internet é mais forte na classe AB, com 4%.
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Fábio Queiróz, presidente da ASSERJ, Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro, concorda e aponta que há demanda para serviços de comércio digital. “A gente tem muito a crescer e é desmistificando a tecnologia o menor caminho. O e-commerce precisa crescer, se aproximar mais do consumidor e dar mais opções”, diz o representante do setor supermercadista.
O Pão de Açúcar é uma das bandeiras com sistema de entregas para compras on-line mais desenvolvido do varejo nacional. Ainda assim, consegue oferecer entregas de alimentos em no máximo 24 horas, tentando baixar esse tempo para quatro horas, um desafio e tanto.
O e-commerce cresce no mundo por garantir comodidade e agilidade na venda, porém, quando o assunto é produto alimentar, a dificuldade fazer disso realidade é maior. Ainda segundo estudo da APAS, até mesmo a cultura de consultar preço na internet ainda é incipiente no País quando o assunto é compra de supermercado. A consulta por preços dentro do supermercado é feita por 58% dos entrevistados.
Entrega expressa
A pesquisa da APAS aponta ainda que, além da consulta a preços, os consumidores são levados às lojas por que, segundo a pesquisa, conseguem ter uma percepção maior sobre qualidade e variedade de produtos e marcas.
A startup Supermercado Now surgiu com a proposta de reduzir o tempo para que o consumidor receba seu alimento em casa e também garanta qualidade do produto. A startup reúne produtos de várias redes supermercadistas em seu aplicativo para que o consumidor consulte preços e faça pedidos on-line. Nos pedidos, o consumidor pode fazer especificações sobre o que pretende escolher, como, por exemplo, se quer frutas maduras ou verdes, por exemplo. O serviço de escolha dos produtos e transporte é feito por profissionais associados à plataforma da Supermercado Now, igual a Uber faz com seus motoristas.
A Supermercado Now espera fechar 2018 com parcerias firmadas com 11 redes supermercadistas e um faturamento de R$ 30 milhões. Em abril deste ano, a rede já operava em 28 lojas de nove redes. Nas redes em que atua, a startup afirma que conseguiu aumentar em quatro vezes o alcance do mercado off-line. “O faturamento das redes de supermercado com o Supermercado Now em algumas parcerias mais maduras chega a ser de 5 a 6% do faturamento total da loja”, afirma Marco Zolet, sócio fundador da Supermercado Now.
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Zolet destaca que os serviços tradicionais de entrega dos supermercados garantem, em média, a entrega em dois dias, o que dificulta a aquisição de produtos frescos. Cruzando os números do aplicativo com as bases do CRM dos supermercados, a Supermercado Now constatou que, entre todos os clientes que usam o aplicativo, mais de 80% são clientes novos, muito por conta da possibilidade de fazer a compra do mês inteira pela internet e receber em casa.
“A nossa cesta é quase 30% de FLV (frutas, legumes e verduras) na média. Quase metade dessa cesta é de itens frescos, que inclui, além de FLV, carne, peixe, aves e frios. Isso é uma vantagem para o consumidor porque ele consegue fazer toda a compra dele efetivamente sem precisar ir ao supermercado”, afirma Zolet.
A possibilidade de vender mais produtos frescos pela internet teve, segundo o executivo da startup, impacto direto no faturamento das redes. Zolet afirma que o tíquete médio das compras via Supermercado Now é de 250 reais e, em alguns casos, chega a ser três vezes maior que o tíquete médio da loja fora do aplicativo.
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